fim

A gente se despede do amor como quem se despede da vida.
A gente vagueia pelas ruas e acha que não existe mais luz que vá iluminar a escuridão a nossa frente. Andamos sem rumo, sem direção alguma, esperando que algo nos tire dessa espécie de vaguidão para um lugar especial.
Fiquei assim quando nosso amor acabou. Eu e Walter éramos como almas gêmeas. Achei que não existiria nada nem ninguém que pudesse nos afastar. Até que o tempo, maior vilão do amor, como quem apenas espera, nos pegou em cheio.
Walter não me amava mais, não fazia questão de estar comigo, não transava mais, não me elogiava mais, preferia seu flamengo aos domingos que a minha companhia, preferia sua cerveja gelada no sábado à noite, que meus beijos quentes em sua boca.
Ele foi se afastando sem perceber.
Mas, os amantes são sempre teimosos. Fazem questão de não vê aquilo que sempre está em seu nariz, então eu resistia, dizia para as amigas que era fase, que logo logo, Walter chegaria com um buquê na mão e um poema decorado para me dizer.
Passaram-se dias, meses, anos....eu continuava a esperar por qualquer gesto que fosse, mas ele permanecia com seu futebol, sua cerveja e seus pensamentos, os quais eu não fazia parte.
Certo dia, me arrumei, vesti minha melhor lingerie, queria fazer uma surpresa pra Walter. Cheguei em casa mais cedo que o normal, queria preparar um bife à milanesa, seu prato predileto, fui no carro ouvindo nossa música favorita, e embalada pelo Henrique e Juliano, pensei no quão feliz Walter ficaria com a surpresa.
Abri a porta, pendurei a bolsa e as chaves, fui diretamente para a cozinha. Não queria perder tempo, afinal ele poderia chegar a qualquer momento. Ouvi um barulho vindo do quarto, achei que fosse Pudim, nosso gato, fazendo suas brincadeiras em cima do guarda-roupa. Ouvi algo cair, então já com a faca na mão andei até o quarto.

Para a minha surpresa, não era Pudim, o gato que brincava em minha cama, era Walter, que usando minha camisola vermelha, a que ele mais adorava, me olhou, completamente amargurado, com um olhar de súplica e apenas disse: Perdão!!!


vai


Só me fala que vai me aturar. Aturar todas as minhas crises de ciúmes, meus momentos - não tão raros - sem paciência, as minhas desconfianças e meus surtos de insegurança. Aturar meus dramas, minhas teimosias, minha arrogância, minhas piadas sem graça e o meu não-romantismo. Aturar todos os meus tipos de provocação, meu amor por outras pessoas, minhas mudanças inconstantes de humor e de temperamento. Aturar minha mente confusa, minha memória irritante, minha sinceridade exagerada. Aturar quando eu falar que te amo mais e também quando eu não falar que te amo. Aturar e segurar tudo não por mim, nem por você… Mas por nós.

 Tati Bernardi.
 
Além do Nosso Espelho © 2015 | Criado Por Aline Lima